Manifesto Conquista Ruas
Texto escrito por Morgana Poiesis, Santiago Cao, Naiade Bianchi e Gabriela Pereira de Souza, logo após a primeira edição do Conquista Ruas, em 2016.
"O Conquista Ruas é um festival de artes performativas que produzimos no começo do outono para reinventar a nossa cidade. Bem, a cidade não tem dono, mas na medida em que a habitamos, mesmo que de passagem, ela se torna nosso bem comum. Comum é o espaço e o tempo de todos aqueles que circulam nas ruas da cidade.
Conquista Ruas abre um buraco nesse ponto onde o tempo e o espaço do cotidiano dilatam-se para novas experiências. Experiências de cidade, na cidade, com a cidade. (Com)frontando e (a)frontando os nossos pensamentos e as nossas diferenças. Um encontro que leva a arte para as ruas e muda o cotidiano da cidade, buscando ocupá-la de forma criativa.
O Festival conta com a participação de artistas locais, estaduais, nacionais e internacionais, seja através das suas performances artísticas pelas ruas e praças, ou das mostras de videoperformances e fotoperformances exibidas em espaços públicos. Públicos diversificados foram transpassados por performances e intervenções diversificadas em momentos inesperados confrontando rotina e arte nessa conexão transcendental. O Conquista Ruas proporcionou possibilidades de encontros entre pessoas de fora e de dentro da cidade, mas também possibilitou encontros com a cidade mesma nos percursos diários e nas atividades propostas.
Uma oportunidade de viver a arte no ambiente urbano, que está tomado por uma grande poluição visual e sonora, pelos apelos publicitários, pela predominância automobilística e pela violência que nos atinge. A criação de espaços-tempos para compartilhamento de experiências sensíveis é uma outra forma de viver e questionar a cidade.
Escolhemos as ruas, não apenas pela deficiência dos espaços culturais que tem comprometido o trabalho de muitos artistas locais, mas por compreendê-las como um lugar de liberdade, de heterogênese, de alteridade, de encontros insuspeitáveis e, ainda, pelo nosso desejo de alcançar um outro tipo de público, não elitista, e até mesmo de questionar o conceito de arte como espetáculo.
Espetáculos não têm seu lugar apenas no palco, as ruas são o grande palco do mundo. Pensando nisso, Conquista Ruas chega para se apropriar artisticamente do espaço com performances e intervenções nas ruas da cidade que nos afeta, mas que também podemos afetar. Ruas como espaços de encontros, mas não só de Corpos se encontrando, mas, também, de saberes e discursos se encontrando. Em que se misturam o dia a dia e a paisagem da cidade com o estranho e o inusitado, através da arte. Qual o lugar da arte na cultura em que vivemos? Se, para Godard, a cultura é a regra e a arte é a exceção, buscamos, com a performance artística, uma aproximação dessas categorias, entre a arte, a vida e o cotidiano cada vez mais automatizado pela lógica capitalista que nos sufoca sem deixar espaço para novas possibilidades.
O maior espaço de liberdade coletiva é nas ruas, ocupá-las com nossos corpos e ideias é o que propõe o Conquista Ruas. Ruas que se abrem e nos oferecem a oportunidade de ver para além do que vemos na televisão. A rua é um espaço para receber diversas possibilidades que a vontade de fazer e a arte podem oferecer.
O artista é aquele que oferece o melhor de si para o outro que é um anônimo, ser que vaga na cidade e seus contornos dentro das diversas possibilidades que podem existir além da realidade presente. Presente, no duplo sentido da palavra. Aqui e agora, mas também como um presente da cidade para nós e de nós para a cidade. A interferência artística traz novos olhares sobre a cidade.”